terça-feira, 11 de setembro de 2012

29 de Agosto: Dia da Visibilidade Lésbica

Texto referente ao dia 29 de Agosto, reconhecido como o dia da Visibilidade Lésbica:

"Além da luta por igualdade e pelo fim das opressões, o dia nacional da Visibilidade Lésbica representa uma reflexão sobre histórico de hiatos da participação das lésbicas e mulheres bissexuais na luta contra a homofobia. Em um mundo machista e heteronormativo, a naturalização da invisibilidade feminina entre as lutas LGBTT retrata a realidade de muitas mulheres que escondem seus desejos e sexualidade entre quatro paredes. 

As mulheres que mantém relações sexuais e afetivas com outras mulheres passam diariamente despercebidas entre a população. Historicamente negada, a homossexualidade feminina às vezes parece não existir dentro das lutas do movimento LGBTT, são raras as fontes que relatam marcos da homossexualidade feminina. Personalidades como Filipa De Sousa são quase desconhecidas, como se a lesbofobia não existisse, da mesma forma que os nomes da luta contra tão opressão permanecem apagados na história.



Parece impossível para o machismo admitir a possibilidade de uma relação em que não exista a presença do homem, não apenas para exercer as atividades classificadas como masculinas, mas também quanto ao ato sexual. Infelizmente, a imagem que fica do relacionamento entre mulheres é a do fetiche masculino em se relacionar com mais de uma mulher ao mesmo tempo. Se não isso, a afirmação de que a relação é estabelecida pela ausência do ‘homem verdadeiro’, crença que ao longo do tempo surge como incentivo ao denominado ‘estupro corretivo’, muito comum na África do Sul.


A invisibilidade deve ser encarada e é uma forma de violência, deixar-se mostrar é uma forma de respeitar o que você é e o primeiro passo para se impor dentro de uma sociedade cheia de opressões. Há uma falta enorme do posicionamento das lésbicas e mulheres bissexuais dentro dos de organizações que lutem contra as opressões sociais, como o movimento feminista e o próprio movimento LGBTT, participação decisiva na conquista de direitos. Mostrar-se, entre todos os conflitos que carrega, é desafiar e lutar contra o patriarcalismo e machismo; rebelar-se contra a heteronormatividade e sua falta de argumentos.

Pesquisas apontam que em relação à saúde, é comum o descaso quando se trata da saúde da lésbica e mulher bissexual. Permanece a crença errada de que as mulheres homossexuais estão livres das DST’s, ainda que escassos em relação às mulheres heterossexuais, estudos mostram que o índice de HIV e outras DST’s ainda é bem frequente. Exames de rotina como o Papanicolau normalmente são solicitados com menos frequência pelos profissionais de saúde, principalmente entre as mulheres exclusivamente homossexuais, que normalmente só recorrem por ele quando surge algum problema, um agravante à sua saúde.

É entre esse contexto que em 29 de agosto de 1996, levantando a bandeira da “Saúde, visibilidade e organização”, aconteceu no Rio de Janeiro o I Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE). Pela primeira vez na história de nosso país cerca de 100 mulheres dividem espaço em busca do combate à lesbofobia e de uma organização que resulte na conquista de seus direitos. O dia nacional da Visibilidade Lésbica é momento de enfrentar uma realidade de esconderijos que acabam por refletir na vulnerabilidade dessas mulheres diante da sociedade.


Neste 29 de agosto é importante refletir que muito mais que ganhar respeito individual dentro do ambiente de convívio, o combate à lesbofobia deve ser de forma coletiva, é importante a organização e a luta diária pela quebra de opressões e ganho de espaços que estas mulheres tem como direito. As lésbicas e mulheres bissexuais devem se mostrar presentes na luta contra as opressões sociais que vivenciam diariamente, quando se deixam passar por invisível é como se não existissem e não existindo não há como garantir que seus direitos sejam exercidos. É na luta que os direitos se fazem mais forte, já é passada a horas das mulheres escreverem sua própria história dentro da luta LGBTT, derrubando as censuras impostas entre o machismo e a heteronormatividade."


por Emilly Firmino,
membro do Grupo Mão Roxa

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